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Gestão pública de Gonçalves Dias publica decreto sobre margem consignada enquanto servidores enfrentam salários atrasados

02/12/2025, às 16:13

A Prefeitura de Gonçalves Dias publicou o Decreto nº 54/2025, regulamentando a margem consignável dos servidores ativos do município. O documento, extenso e minucioso, trata de regras para empréstimos consignados, limites de desconto em folha e obrigações entre instituições financeiras e o setor público municipal.

Apesar da formalidade, o decreto chega em um dos momentos mais delicados para os servidores, que enfrentam atrasos salariais consecutivos e uma crise financeira sem precedentes na gestão atual. A publicação, portanto, tem sido vista pela categoria e pela população como no mínimo inadequada e insensível, considerando o cenário enfrentado por trabalhadores que sequer estão recebendo seus vencimentos em dia.

UM DECRETO QUE IGNORA A REALIDADE: QUEM NÃO RECEBE EM DIA, VAI CONSIGNAR COMO?

A regulamentação de consignados só faz sentido em um ambiente de estabilidade financeira — algo inexistente hoje no município. O próprio decreto fala sobre proteção contra “superendividamento”, mas esquece que o servidor de Gonçalves Dias já está superendividado por culpa da gestão, que atrasa salários e gera insegurança econômica para centenas de famílias.

Em vez de apresentar um calendário oficial de pagamento, um plano de recuperação financeira, ou medidas concretas para garantir o básico — o salário do trabalhador —, a gestão prefere gastar energia regulamentando empréstimos.

É uma escolha, no mínimo, desconectada da realidade.

DECRETO NÃO RESOLVE O PROBLEMA CENTRAL: FALTA GESTÃO, FALTA PAGAMENTO, FALTA RESPEITO

A pergunta que fica é simples:

Como regular empréstimos para quem não tem salário garantido?

O decreto até define regras detalhadas:

  • Margem de até 30% ou 35% do salário;
  • Regras de transparência para instituições financeiras;
  • Obrigações do RH;
  • Campanhas anuais de educação financeira;
  • Responsabilidades limitadas para o Município.

Mas nenhuma linha do documento menciona:

  • Quando os salários atrasados serão pagos;
  • Como o servidor será protegido da própria crise criada pela gestão;
  • Que medidas serão tomadas para impedir que novos atrasos aconteçam;
  • Como restaurar a confiança na administração municipal.

Ou seja, há cuidado com o consignado, mas nenhum cuidado com o servidor.

O QUE A POPULAÇÃO ESPERAVA?

A população — especialmente os servidores — não queria decreto de consignado.
Queria transparência.
Queria respeito.
Queria pagamento.
Queria compromisso com quem trabalha.

Empurrar consignado para um servidor que está com contas atrasadas, crédito comprometido e vivendo sob incerteza é mais um golpe psicológico do que uma política pública. É tentar passar ao trabalhador a ideia de que “se vire”, enquanto o próprio município falha no seu dever mais básico.

INSENSIBILIDADE EM UM MOMENTO CRÍTICO

O decreto poderia ser publicado em qualquer outro contexto.
Mas publicá-lo agora, com salários atrasados, comércio em crise, funcionários pedindo ajuda em grupos de mensagens e famílias sofrendo com a insegurança financeira, demonstra uma enorme falta de sensibilidade política e humana.

A gestão parece preocupada com o crédito consignado, mas não com o crédito moral que perdeu com os servidores e com a população.

A VERDADE É CLARA

É impossível falar de responsabilidade fiscal enquanto servidores enfrentam atrasos.
É contraditório falar de proteção contra endividamento quando a própria gestão empurra o servidor para o endividamento.
É incoerente regulamentar empréstimos quando a administração não consegue garantir o salário do mês.

O decreto pode até seguir a lei — mas não segue o bom senso, não segue a prioridade social e não segue o respeito ao trabalhador.

Gonçalves Dias precisa de gestão, não de maquiagem normativa.
Precisa pagar o que deve antes de tentar ensinar o servidor a lidar com dívidas que a própria gestão gera.